A história de Ryan White é um poderoso testemunho de coragem, injustiça e, por fim, de um legado transformador que ecoou muito além de sua curta vida. Nascido em Kokomo, Indiana, em dezembro de 1971, Ryan foi diagnosticado com hemofilia severa tipo A logo nos primeiros dias, uma condição genética que dificultava a coagulação do sangue e o tornava dependente de transfusões regulares do composto Fator VIII. Foi através desse tratamento, em uma época de poucos avanços nos exames de sangue para doações, que Ryan contraiu o HIV, sendo diagnosticado com AIDS no final de 1984, aos 13 anos, após uma pneumonia severa. Os médicos lhe deram apenas seis meses de vida.
Contrariando o prognóstico, Ryan se recuperou no início de 1985 com um desejo simples: voltar à escola e viver como um garoto normal. No entanto, o que se seguiu foi uma dolorosa batalha contra a ignorância e o medo. A diretoria da Western School Corporation proibiu seu retorno, e a notícia de sua condição se espalhou, gerando pânico. Um abaixo-assinado com 50 funcionários e 117 pais de alunos pedia sua expulsão. Mesmo após o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e o comissário de saúde do estado, Dr. Woodrow Myers, atestarem que Ryan não oferecia risco aos colegas, a hostilidade persistiu.
Readmitido apenas em abril de 1986, após uma longa batalha legal, Ryan enfrentou uma realidade cruel: foi obrigado a usar um banheiro separado, talheres descartáveis e foi banido das aulas de educação física. Colegas foram retirados da escola por seus pais, que criaram uma instituição alternativa. O preconceito extrapolou os muros da escola: assinaturas do jornal que ele entregava foram canceladas, restaurantes jogavam fora os pratos que sua família usava, os pneus do carro de sua mãe foram cortados e um tiro atingiu a janela de sua casa. Até na igreja, a família White foi isolada, com paroquianos se recusando a apertar a mão de Ryan durante o cumprimento da paz.
Foi nesse turbilhão que a história de Ryan alcançou Elton John. Em 1985, o cantor leu sobre o caso em uma revista e ficou profundamente indignado. “Eu não podia acreditar que um menino estava sendo impedido de ir à escola, sua família desprezada e atormentada, porque ele tinha AIDS,” relembrou Elton. Ele decidiu ajudar, convidando a família para seus shows e, posteriormente, levando-os à Disneylândia. O cantor também doou U$15.500 para que a mãe de Ryan, Jeanne White-Ginder, pudesse arcar com as despesas da mudança para Cicero, Indiana, em 1987, depois que Ryan confidenciou não querer ser enterrado em Kokomo. Em Cicero, a família foi acolhida de braços abertos, e Ryan pôde frequentar a escola e fazer amigos. Outras celebridades, como Michael Jackson, que presenteou Ryan com um Ford Mustang conversível, e Charlie Sheen, também demonstraram apoio.
Para Elton John, a relação com Ryan e sua família foi um divisor de águas. O músico, que na época lutava contra o vício em cocaína e álcool, viu em Ryan uma força e um perdão inabaláveis, mesmo diante de tanto sofrimento. “Ryan era um verdadeiro herói, um verdadeiro cristão, porque perdoou incondicionalmente aqueles que o fizeram sofrer,” disse Elton, chegando a chamá-lo de “um Jesus Cristo dos dias modernos”. A convivência com os White e, especialmente, a morte de Ryan, foram o catalisador para a transformação de Elton. “Eu sabia que meu estilo de vida era louco e desordenado… Seis meses depois [da morte de Ryan], eu fiquei sóbrio e limpo e estou assim desde então,” afirmou o cantor, creditando à família White ter salvo sua vida. “Eu não posso agradecê-los o suficiente, porque sem eles, eu provavelmente estaria morto.”
No início de 1990, a saúde de Ryan deteriorou rapidamente. Elton John voou para ficar ao seu lado no hospital em Indianápolis. Em 7 de abril, mesmo com Ryan próximo da morte, Elton cumpriu um show na cidade, dedicando “Candle In The Wind” ao amigo, enquanto milhares de fãs erguiam isqueiros em vigília. Horas depois, na manhã de 8 de abril de 1990, Ryan White faleceu aos 18 anos.
Seu funeral reuniu mais de 1.500 pessoas, incluindo Elton John (que carregou o caixão e cantou “Skyline Pigeon”), Michael Jackson, a então primeira-dama Barbara Bush e até o advogado do grupo de pais de Kokomo que tentou impedi-lo de frequentar a escola, que pediu perdão à mãe de Ryan.
O legado de Ryan White transcendeu sua morte. Quatro meses depois, o Congresso dos EUA aprovou o “Ryan White CARE Act”, uma legislação crucial que até hoje financia serviços e tratamentos para pessoas vivendo com HIV/AIDS no país. Sua luta e sua voz ajudaram a educar o público, humanizar a doença e combater o estigma associado à AIDS, deixando uma marca indelével na história da saúde pública e dos direitos humanos.
Ryan White: Courage Against HIV and Prejudice That Inspired Elton John
Diagnosed with AIDS at 13, he faced the fury of ignorance and became the catalyst for Elton John’s sobriety and a vital law.
The story of Ryan White is a powerful testament to courage, injustice, and ultimately, a transformative legacy that echoed far beyond his short life. Born in Kokomo, Indiana, in December 1971, Ryan was diagnosed with severe hemophilia A in his early days, a genetic condition that impaired blood clotting and made him dependent on regular transfusions of the Factor VIII compound. It was through this treatment, in an era with few advancements in blood screening for donations, that Ryan contracted HIV, being diagnosed with AIDS in late 1984, at age 13, after a severe bout of pneumonia. Doctors gave him only six months to live.
Defying the prognosis, Ryan recovered in early 1985 with a simple wish: to return to school and live like a normal boy. However, what followed was a painful battle against ignorance and fear. The Western School Corporation board barred his return, and news of his condition spread, sparking panic. A petition signed by 50 staff members and 117 parents demanded his expulsion. Even after the Centers for Disease Control and Prevention (CDC) and the state health commissioner, Dr. Woodrow Myers, attested that Ryan posed no risk to his classmates, the hostility persisted.
Readmitted only in April 1986, after a long legal battle, Ryan faced a cruel reality: he was forced to use a separate bathroom, disposable utensils, and was banned from gym class. Classmates were withdrawn from school by their parents, who established an alternative institution. The prejudice extended beyond the school walls: subscriptions to the newspaper he delivered were canceled, restaurants threw away dishes his family used, the tires on his mother’s car were slashed, and a bullet was shot through their house window. Even at church, the White family was isolated, with parishioners refusing to shake Ryan’s hand during the sign of peace.
It was amidst this turmoil that Ryan’s story reached Elton John. In 1985, the singer read about the case in a magazine and was deeply outraged. “I couldn’t believe that a boy was being kept out of school, his family shunned and tormented, because he had AIDS,” Elton recalled. He decided to help, inviting the family to his concerts and later taking them to Disneyland. The singer also donated $15,500 to Ryan’s mother, Jeanne White-Ginder, to help with the expenses of moving to Cicero, Indiana, in 1987, after Ryan confided he didn’t want to be buried in Kokomo. In Cicero, the family was welcomed with open arms, and Ryan was able to attend school and make friends. Other celebrities, like Michael Jackson, who gifted Ryan a red Ford Mustang convertible, and Charlie Sheen, also showed support.
For Elton John, the relationship with Ryan and his family was a turning point. The musician, who at the time was battling cocaine and alcohol addiction, saw in Ryan an unwavering strength and forgiveness, even in the face of so much suffering. “Ryan was a true hero, a true Christian, because he unconditionally forgave those who made him suffer,” Elton said, even calling him “a modern-day Jesus Christ.” The time spent with the Whites, and especially Ryan’s death, became the catalyst for Elton’s transformation. “I knew that my lifestyle was crazy and out of order… Six months later [after Ryan’s death], I got sober and clean and have been ever since,” the singer stated, crediting the White family with saving his life. “I cannot thank them enough, because without them, I’d probably be dead.”
In early 1990, Ryan’s health deteriorated rapidly. Elton John flew to be by his side at the hospital in Indianapolis. On April 7, even with Ryan near death, Elton performed a concert in the city, dedicating “Candle In The Wind” to his friend, while thousands of fans held up lighters in vigil. Hours later, on the morning of April 8, 1990, Ryan White passed away at age 18.
His funeral brought together more than 1,500 people, including Elton John (who served as a pallbearer and sang “Skyline Pigeon”), Michael Jackson, then-First Lady Barbara Bush, and even the lawyer for the Kokomo parents’ group that had tried to block him from school, who asked Ryan’s mother for forgiveness.
Ryan White’s legacy transcended his death. Four months later, the U.S. Congress passed the “Ryan White CARE Act,” crucial legislation that to this day funds services and treatments for people living with HIV/AIDS in the country. His struggle and his voice helped educate the public, humanize the disease, and combat the stigma associated with AIDS, leaving an indelible mark on the history of public health and human rights.